sábado, 29 de setembro de 2012

Vida e morte

Deus colocou a eternidade no coração do homem. Talvez seja por isso que a dor de perdemos pessoas queridas sejam tão grande. Queremos tê-las para sempre ao lado. Queremos que a alegria seja perene, queremos viver para sempre, e o mundo que conhecemos é esse aqui. Mas, graças a Deus, essa não é a nossa casa. Esse mundo está todo muito errado, as coisas que lemos no jornal e vemos nas ruas machucam o coração dia após dia. Enfrentamos lutas, dor, doença, mentiras e, a pior das lutas, nosso ser pecaminoso. Tem dia que estou tão cansada disso aqui que parece que quero ir embora imediatamente.
E nesse mundo de dores, queremos ser felizes. Queremos proteger a nós mesmos e as pessoas amadas de todo o sofrimento. Por isso, trabalhamos arduamente e conseguimos casa, comida, roupa. Assim vamos tentando dar uma cara de lar para esse mundo aqui. É sempre bom ajeitar as coisas para que nossa espera aqui seja a mais agradável possível. Mas a sala de espera é um pouco hostil e insalubre, em nada se parece com a alegria do lugar onde está o nosso tesouro.
E nunca podemos de esquecer a natureza do lugar onde estamos. É temporário, somos peregrinos. Jesus nos amou tanto que deu sua vida para que pudéssemos contemplar e depois viver num lugar onde não há choro nem dores. E justamente nós, tão sujos e tão impróprios para um lugar assim. Ele nos permitiu que nos lavássemos e ficássemos prontos e preparados para partirmos a qualquer momento. Partir, sem dúvida, é difícil. É um passo para algo completamente novo, do qual temos pouca informação. E partimos sozinhos, o que dá mais um pouco de ansiedade à jornada. Mas partimos para o braço do nosso amado.
Que possamos nos manter sempre prontos, com nossas roupas limpas para a festa que estamos esperando. Que possamos sim amar e nos apegar uns aos outros. Que possamos sentir saudades também. Mas estar com Jesus é sempre uma alegria sem medida, que nunca pode ser confundida com separação, medo e sofrimento.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A desiludida realidade

Tem dia que eu fico tão preocupada com o rumo da fé neste mundo. Não vejo mais espaço para as palavras milagre, Deus, desapego, esperança, transformação. Mesmo entre os crentes, percebo dificuldade em ouvir uma história e crer que Deus realmente agiu. É preferível procurar uma explicação lógica para tudo.
Ou se a história realmente é fantástica, as pessoas a tratam como um roteiros hollywoodiano. Sente pelo menos aquela impressão de fortes emoções, que termina quando se desliga a televisão, num retorno a uma dose grande de realidade.
Quando falo sobre Deus e vejo racionalização ou um olhar cético, sinto aquela impressão que o mal tem vencido, com artimanhas como pressa e rotina que massacram as pessoas. Por que não podemos mais contemplar uma faísca de eternidade a nos apontar um caminho novo em meio a tantas trevas mundanas e temporais?
E os crentes pensam que o papel de Deus é apenas oferecer à pessoa aquilo que ela mesma conquistou com seu suor. Não seria sem graça viver uma vida tão ausente da graça de Deus? Será que a graça já não é tão gratuita assim?
Assim reduzimos a nossa vida ao arroz e feijão, regados pela maldade que a mídia apresenta e que busca se arraigar de todas as formas em nosso coração sob o pretexto de ser a serenidade madura de quem observa o mundo de uma ótima mais imparcial e com doses de politicamente correto e de social e ambientalmente responsável.
Se a vida se resume a isso, somos tão infelizes. Parece que o homem moderno abriu mão de parte da sua humanidade. Daquela humanidade toda que veio antes dele e procurava um Deus maior, mais onisciente para adorar. Agora o que as pessoas têm de mais parecido que isso é a internet e suas redes sociais que fazem da onipresença e da onisciência apenas mais um retrato delas mesmas.
Fechadas em seus mundinhos, as pessoas estão tão ausentes do que é de fato espiritual, mais do que apenas um sentir-se bem, como um apanhado de dieta e meditação centradas para elas mesmas. Ausentes de compaixão. E cegas para um mundo inteiro que se passa diante de seus olhos. E agora?

sábado, 5 de maio de 2012

Paulo e Moisés: no deserto ao som da voz do Senhor

Impossível ler o Pentateuco e deixar de notar um paralelismo interessante entre Moisés e meu preferido herói bíblico, Paulo. Falamos de duas pessoas que conheceram profundamente a Deus e experimentaram vidas inigualáveis por causa disso. Foram pessoas que estiveram muito próximas daquele que fez todas as coisas desse mundo. E de uma forma tão intensa e particular que nem sei se nós, reles mortais, algum dia poderemos afirmar que tivemos tanto contato com o Todo Poderoso. 
Mas as semelhanças não param por aí. A julgar por aqueles que pregam a teologia da prosperidade, imaginaria-se que ambos estiveram muito ricos por aí, já que Deus prometeria isso a seus amados. Mas o que a Bíblia mostra é um Moisés que vagou por um deserto por quarenta anos, liderando um povo rebelde que vez por outra questionava sua autoridade. E lá, quando faltava apenas atravessar um riozinho para enfim chegar ao local que desejou estar durante toda a trajetória, Deus veta sua presença. A ele cabia agora morrer, pois seu serviço estava concluído. 
E Paulo não é diferente. Tantas privações, tantos serviços, tantas dificuldades. Nenhum reconhecimento. Pelo contrário, ele mesmo foi rejeitado pelos seus, e teve de abrir mão das posições de destaque que tinha na sociedade em que foi criado. Algo semelhante deve ter ocorrido com Moisés, pois cresceu como filho da filha de Faraó e no final ficou como um escravo fugitivo. Por opção. 
E tudo isso para Paulo era refugo. Para Moisés não deveria ser diferente. Por várias ocasiões eles ouviram a voz de Deus falar-lhes claramente. Algo que deve colocar todo o interior de uma pessoa e toda a sua vida em ordem. A voz do amado criador, como a voz de um Pai para um bebê sozinho a noite. A direção certa, que revela a razão deste mundo louco.  
Melhor do que todas as riquezas, que as pessoas encontram como o único motivo para servir a Deus. De riquezas eles não tinham nada, nem de muita fama, porque todas essas coisas foram diminuindo ao longo de suas trajetórias com o Senhor. Difícil para nós, que temos uma lógica tão distorcida. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

As ondas e os tempos

Tem dia que está tudo muito mais difícil. Fica pesado olhar no horizonte e ver aquela pouca razão que move um mundo que parece completamente sem sentido. E de repente torna-se tão apagado o brilho das coisas boas da vida, como da família, de si mesmo, do casamento e até mesmo do relacionamento com Deus. Tentamos ter esperanças e, de novo, como em uma grande ironia, ela é frustrada. Acabamos carregados por uma agenda cansativa de coisas para fazer que se avolumam sem deixar espaço para um trivial e saudável momento de descanso.
Será que as coisas voltarão a ser como antes? Será que de novo descansaremos? Será que de novo teremos uma paz profunda a abastecer a alma?
Dúvidas insanas de quem se esquece da natureza da vida humana e das coisas por aqui. Como um barco em ondas, nosso coração sobre e desce em momentos de paz e em outros de angústia. Alguns passam por isso com mais intensidade, mas ninguém está alheio a sentir-se assim.
Agora é a hora de agir como o salmista: "Eu fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe".

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os infelizes semi-cristãos

Li em I Coríntios 15: "Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão". Muitas vezes, tem faltado à igreja pós-moderna uma visão que concentra as energias nesta era. Uns se preocupam em demasia com a compra de um carro melhor ou com a realização de um "sonho de consumo". Outros ficam ali sempre defendendo o lado social e se esquecem do espiritual. 
E de repente, ficamos infelizes. Não somente infelizes, mas os mais infelizes e dignos de compaixão. De que vale ser cristão, se não nos considerarmos peregrinos neste mundo, de olho no Reino dos Céus ("que venha o teu reino"). Não, de fato, não somos cristãos somente pela advocacia de um conjunto de valores. Não somos cristãos porque não roubamos, não mentimos ou vamos sempre à igreja. 
Somos cristãos porque sabemos que Jesus Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou e assim também nós vamos ressuscitar num corpo incorruptível para reinarmos com ele em glória. Se somos semi-cristãos, não temos plena compreensão disso e estamos mais de olho naquela necessidade que bate à porta deste mundo material, seja ela individualista ou até mesmo mais "social". 
Agora, se for pra viver um cristianismo materialista, prefiro pensar como Paulo, no texto citado. ("Se foi por meras razões humanas que lutei com feras em Éfeso, que ganhei com isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos"). 
É melhor viver esse hedonismo louco, pois de nada adianta um cristianismo que não ama a volta de Jesus. 
Como já sei onde habita a verdade, minha opção é dizer como Paulo no final de sua carta: "Vem, Senhor!". Sim, venha logo Jesus, pois ando cansada deste mundo insano em que há crianças entregues à pobreza, à marginalidade e ao uso de drogas e adultos tão interessados em satisfazer seus prazeres a todo o custo. Vem, Senhor!