sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Inovar o olhar para o velho

Ao estudar o Velho Testamento, é impossível não perceber que ele é, mais ou menos, como uma comida indigesta, que muito crente evita experimentar ou aprecia alguns poucos pedacinhos, com moderação. Se um banquete só oferecer dele, pouco a pouco aparecem alguns narizes torcidos de quem não consegue ver no Deus do Velho nenhum sinal do amoroso Deus do Novo. É como se os crentes acreditassem que o temeroso Grande Eu Sou fez uma repaginação orientada por um marqueteiro eleitoral. Ou então eles se esquecem de que se trata de uma mesma pessoa, que por sinal, é imutável.

Como sua aparição no Novo é muito mais “paz e amor”, nos apaixonamos por ele, sempre com vistas grossas ao Deus que parecia um carrasco outrora. E olha que não se pode ler todo o Novo Testamento com essa idéia sempre, pois em Apocalipse, o Deus enfurecido retorna para fechar a história e colocar um pouco de gente no lago de fogo e enxofre.

O problema não é o Velho nem o Novo, mas nosso olhar. Nesse lado ocidental do planeta, a humanidade anda humanizada e humanista demais (isso é uma crítica). Nossa cultura olha demais o individual, para evitar pensar que somos todos parte de um desígnio eterno de Deus, apenas servos e nada mais. Então é uma atrocidade pensar que Deus seria capaz de fuzilar uma pessoa só pelo fato de ela ter tentado ajudar e colocado a mão na arca para não deixá-la cair. O que dizer então de Deus mandar o povo à guerra e de a terra ter se aberto para receber vivos todos os membros (inclusive crianças) de um opositor a um líder?

Talvez essas passagens podem parecer muito indigestas para quem acha que devemos ser pacifistas, moderados, equilibrados e democráticos até as últimas conseqüências e, seguindo nosso heróico exemplo, Deus deveria ser assim também. E se dissermos que esses valores tão disseminados por nossa geração, na realidade, não são tão relevantes assim no Reino de Deus? No meu escasso e prematuro entendimento da palavra, eu diria que Deus se importa mais com obediência, humildade, confiança na sua palavra.

E se o rapaz que colocou a mão na arca tiver desobedecido um preceito em que Deus aponta o tratamento que deve ser dado à arca? Na nossa cabeça humana, humanista e humanizada, pensamos: “coitado, pelo menos teve boa intenção”. E talvez Deus pese de um lado sua boa intenção e de outro sua desobediência e conclua que a obediência seria muito mais importante?

Devemos parar de esperar que Deus se comporte da forma politicamente correta a nossos olhos e se amolde ao nosso padrão de bom-moço. Embora tenhamos tudo customizado a nossos interesses e desejos nessa cultura de consumo, Deus é quem ele é, independente de quem queremos que ele seja. E quem quer servi-lo e amá-lo é convidado a fazê-lo de Gênesis a Apocalipse.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Intermediário

Chegar próximo de Deus pode ser uma experiência assustadora, por ser ele muito diferente de todo o repertório de coisas e pessoas que já vimos. E também sem dúvida demanda o que há de mais custoso ao ser humano: a mudança... Impossível manter-se o mesmo diante de tanta realidade e sentido.
Para evitar esses percalços e sentir-se pelo menos um pouco mais saciado da sede pelo eterno, inventou-se logo de início a profissão de intermediário. Tenha ele o nome que for: pastor, padre, líder espiritual. Alguém que ore por mim, que apresente a Deus as minhas causas, que me ensine o que dele ouviu... Bem mesmo um telefone sem fio.
São importantes os líderes? Não tenho dúvidas que sim, porque nos despertam para coisas que nossos olhos evitam. Mas a alma pode acabar viciada, dado sua preguiça descomunal. Mas não existe uma religião tão individualista como a cristã, quando a vemos por algumas óticas. A questão da salvação é uma, porque é impossível alcançá-la a partir da experiência de quem quer que seja, se não for a própria pessoa. Impossível de delegar ou assinar uma procuração.
Haverá sempre o dia inevitável em que aquela pobre alminha minguada que sempre falou com Deus indiretamente estará de pé diante de toda a plenitude da divindade. O que falará quando o Todo-Poderoso pedir as contas de tudo o que deu a ela?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Simplificar

Quero obedecer a Deus. Quero um carro novo, quero ter um emprego novo até o final do ano, quero uma casa linda, férias no verão, conhecer outras culturas, sapatos da moda. Quero fazer as unhas, aprender a costurar, fazer comida. Quero ler muitos e muitos livros, aprender inglês profundamente, quero ser a melhor funcionária. Quero ter um cachorro, quero minha casa limpa e arrumada. Quero estudar teologia e ensinar português. Quero tomar um picolé, quero gastar mais tempo com minha família, quero também ver mais filmes, praticar um esporte. Quero alimentar direito, mas quero também umas deliciosas gordurinhas. Quero dormir cedo, quero fazer tantas coisas de uma vez. Quero escrever um livro, e outro. Quero ter coisas importantes para pensar e falar. Quero aprender a tocar violão e a cantar. Quero tomar banho em banheira de hidromassagem. Quero cuidar do meu jardim e pintar as paredes da casa. Quero um dia dar aulas na escola dominical e para isso, quero ler mais ainda. Mas quero ter tempo para ficar de bobeira, fazer uma coisa pelo simples prazer de fazer. Quero ajudar as pessoas, muitas pessoas. Quero ensinar alguém a ler, quero arrumar empregos para todos os meus amigos, ir a muitos casamentos. Quero falar no telefone até tarde, quero economizar energia e água. Quero ser mais madura e voltar a ser criança.

E a simplicidade consiste em querer uma coisa só. E a verdade é que queremos tantas... Como obedecer a Deus e retornar ao propósito certo dentro de tantos compromissos comigo mesma? Quero querer só uma coisa, uma só, a essência.

Se for para querer só uma coisa, fico com uma música (do PG) que tem feito parte de minha oração:

Que sejas meu universo, não quero dar-te só um pouco do meu tempo...
Que sejas tudo o que sinto e o que penso!
Não quero a minha vontade, quero agradar-te
E cada sonho que há em mim quero entregar-te

De mudança


Li hoje: “orar é mudar. A oração é a principal via usada por Deus para nos transformar. Se não estivermos dispostos a mudar, deixaremos a oração de lado, e ela não será uma característica perceptível em nossa vida”. Isso porque não podemos ter uma grande aproximação de Deus e continuar do mesmo jeito. Uma vida de oração é também de mudança, e acho que preciso orar, pois as palavras lá da igreja me convencem que estamos por aqui para mudar e mudar de novo. Quem sabe chegaremos à perfeição de Jesus!

Deve ser por isso que o autor desse livro maravilhoso (Celebração da disciplina) diz que todos os que caminharam com Deus consideravam a oração a parte principal da vida. E vejo também que sempre que eu peço em oração que Deus mude uma pessoa, acabo em situações que desafiam a me mudar.

Talvez as pessoas se acostumam tanto a ter intermediários para ouvir de Deus que são as mesmas há muitos anos... Só que o tempo sempre traz mudanças, mesmo para quem não quer. E as decepções fazem um papel de trazer mudança, que a oração não pôde fazer. Elas fazem isso com uma boa dose de armagura e falta de sentido.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre bênçãos e graça

Deus deu uma roupa de couro para um casal nu, que só tinha para se cobrir folhas de figueiras. Além disso, quando o povo pediu, deu um rei ungido a Israel: Saul. Sinal que Deus estava feliz e, por isso abençoava? Quem lê os dois contextos percebe a decepção dele com o povo, que o rejeitou e optou por um caminho tortuoso.

Se eu fosse Deus, arrancava o avental de folha de figueiras de Adão e Eva e mandava eles irem embora pelados! E ainda, quando o povo me rejeitasse e pedisse um rei, eu lhes daria Hitler, com todas as suas câmaras de gás! Mas quem é Deus e seu infinito amor? É aquele que não guarda mágoas, que não paga mal com mal e, quando quer, abençoa, independentemente do que fazemos por merecer.

Isso é graça! É a forma que ele trabalha! É por isso que ricos ainda têm sucesso quando exploram as pessoas. Deus é injusto? Mais do que ser justo, ele é bom! Que eu aprenda com seus passos, Senhor!