segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Aslam


Quem lê ou vê as Crônicas de Nárnia sabe que nada é melhor do que os encontros entre as crianças e o grande leão. Ficamos sempre à espera desse momento. Em nosso mundo é assim também, falta-nos a simplicidade das crianças, para aproveitarmos bem a companhia. Veja a beleza de um desses maravilhosos encontros:

Com o coração batendo descompassadamente, levantou-se e avançou para lá. Pairava na clareira m certo murmúrio como o que faz ventania na copa das árvores, ainda que não corresse nem a mais leve aragem. Mas também não era o sussurro costumeiro da folhagem. Lúcia sentiu que naquele murmúrio havia uma certa melodia, que todavia não conseguia captar, assim como na véspera não fora capaz de entender as palavras, quando as árvores pareciam falar-lhe. Mas já não podia haver dúvida de que as árvores estavam andando... passando umas pelas outras e cruzando-se como se executassem uma complicada dança campestre.
Já estava quase entre as árvores. A primeira para a qual olhou pareceu-lhe ser não uma árvore, mas um homem enorme, de barba desengrenhada e grandes tufos cabeludos. Isso para ela já não era novidade, e ao e assustou. Mas, quando voltou a olhar, a árvore, se bem que continuasse a mexer-se, era apenas uma árvore. O que não percebia era se tinha raízes ou pés, pois quando as árvores se deslocam não andam na superfície a terra: deslizam por dentro Del, como fazemos na água. O mesmo aconteceu com todas as outras árvores. Num momento, pareciam encantadores gigantes, forma que assumem quando qualquer poder mágico as chama plenamente à vida. Logo em seguida, voltaram a ser simplesmente árvores. O engraçado é que, como árvores, eram árvores estranhamente humanas, e, como as pessoas, eram estranhamente folhosas e ramalhudas... e o tempo todo aquele ruído alegre, nascente, rumorejante.
– Estão quase despertando! – disse, sentindo-se ela própria mais acordada do que nunca.
Meteu-se pelo meio, muito confiante, dançando e saltando para um lado e para o outro, temerosa apenas de que algum daquele gigantescos dançarinos esbarrasse nela. Ma isso só a preocupava um pouco, pois seu desejo era ir além das árvores, ao encontro de alguma coisa, porque fora de lá que chamara a voz querida. Não demorou a atingir o outro lado, perguntando a si mesma se tivera de afastar os ramos com as mãos eu se fora levada pelos gigantescos dançarinos. Finalmente saiu da mobilidade confusa dos maravilhosos contrastes de sombra e luz.
Em redor de um macio relvado, árvores negras bailavam. E então... que alegria! No meio delas, o Grande Leão, branco de luar, projetava uma enorme sombra escura.
Se não fosse o movimento da cauda, poderia ser tomado por uma estátua. Lúcia nem sequer pensou nessa hipótese. Nem um instante duvidou... Correu para ele. Não podia perder um só momento. Envolveu-lhe o pescoço com o braço, beijando-o, enterrando a cabeça no sedoso pêlo de sua juba.
– Aslam! Querido Aslam! – soluçou. – Até que enfim
!

Nenhum comentário: