quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Espiritualidade para novas mães

O que sobra de espiritualidade para as mães de crianças pequenas? Ouvi falar que não devemos permanecer de pé se pudermos estar sentadas, nem sentadas se pudemos estar deitadas, nem acordadas quando for possível dormir. E assim seguem-se os dias, sendo que em alguns deles todo o escasso tempo livre acaba dedicado apenas à higiene pessoal e as necessidades biológicas básicas.
Eu ando bem assim, já nos meados de minha licença maternidade, curtindo um bebê e outra criança pequena. E daí uma lista infindável de pequenos e grandes compromissos, além de imprevistos mil que me fazem perceber que esta fase é composta de 99% de transpiração e só 1% de inspiração. Quando paro, me vejo cair no sono quando eu nem sabia que estava cansada. Quando enfim vou tomar banho e dormir, percebo que já dei uma porção de banhos e coloquei para dormir bem meia dúzia de vezes elas antes de chegar a minha vez. Quando deito, todo o meu corpo dói.
Enfim, será que ainda sobra alguma transcendência a quem vive assim? Sim, em muitos aspectos. Primeiro a mãe de um bebê sabe que acaba de viver um milagre, que é a geração de uma vida. É incrível o quanto a gravidez depende pouco de nós, pois não podemos dar a vida nem mantê-la. Às mães, cabe apenas se alimentar, se exercitar e ir a consultas. E o desenvolvimento do bebê vai acontecendo meio que sem pedir licença, de uma forma mágica e sem controle, completamente determinada por Deus (Sl 71:6). A mim parece impossível uma mulher grávida não acreditar em Deus, porque ela percebe uma vontade soberana que transcende a sua e vai criando uma vida a partir dela.
Daí passamos pelo parto e começam os dias exaustivos dos primeiros meses. Noites maldormidas, com poucos momentos de tranquilidade com tantas dúvidas diante do novo e variações hormonais mudando o corpo e afetando os sentimentos. No meio disso, vi o Senhor quando pedi a ele para me tirar a ansiedade e o medo do novo. E em momentos desesperados de cansaço, aflição por problemas de saúde ou de alimentação das crianças, eu me esforço para olhar além do temporário e ver o eterno Deus e sua vontade fazendo que todas as coisas cooperem para o bem dos que o amam. Em tudo, vi que ele cuidou de mim me oferecendo o sono que seria necessário, de tal forma que o meu Pastor não me deixou faltar nada (Sl 23:1).
Ao conhecer a maternidade, pude notar também um delicado cuidado do Senhor que nos protege como se fóssemos criancinhas pequenas com medo de um tanto de coisas bobas (Sl 131:2). Senti que posso me encaminhar a seus braços nos momentos de exaustão (Mt 11:28).  De repente, se tiro de novo os olhos dessa confusão de brinquedos e fraldas, posso ver que está tarde, o corpo está cansado e pedindo só cama, mas o espírito pede pelo Senhor (Jm 29:13).
E nas vezes em que estou insegura sobre o que devo fazer para a melhor educação de minhas crianças, peço em oração que Deus faça através de mim, de minhas atitudes. E nos meus erros, que são muitos, peço que ele atue apesar de mim, para que minhas filhas se tornem suas servas e tudo isso aqui valha realmente o penoso ingresso.

sábado, 29 de setembro de 2012

Vida e morte

Deus colocou a eternidade no coração do homem. Talvez seja por isso que a dor de perdemos pessoas queridas sejam tão grande. Queremos tê-las para sempre ao lado. Queremos que a alegria seja perene, queremos viver para sempre, e o mundo que conhecemos é esse aqui. Mas, graças a Deus, essa não é a nossa casa. Esse mundo está todo muito errado, as coisas que lemos no jornal e vemos nas ruas machucam o coração dia após dia. Enfrentamos lutas, dor, doença, mentiras e, a pior das lutas, nosso ser pecaminoso. Tem dia que estou tão cansada disso aqui que parece que quero ir embora imediatamente.
E nesse mundo de dores, queremos ser felizes. Queremos proteger a nós mesmos e as pessoas amadas de todo o sofrimento. Por isso, trabalhamos arduamente e conseguimos casa, comida, roupa. Assim vamos tentando dar uma cara de lar para esse mundo aqui. É sempre bom ajeitar as coisas para que nossa espera aqui seja a mais agradável possível. Mas a sala de espera é um pouco hostil e insalubre, em nada se parece com a alegria do lugar onde está o nosso tesouro.
E nunca podemos de esquecer a natureza do lugar onde estamos. É temporário, somos peregrinos. Jesus nos amou tanto que deu sua vida para que pudéssemos contemplar e depois viver num lugar onde não há choro nem dores. E justamente nós, tão sujos e tão impróprios para um lugar assim. Ele nos permitiu que nos lavássemos e ficássemos prontos e preparados para partirmos a qualquer momento. Partir, sem dúvida, é difícil. É um passo para algo completamente novo, do qual temos pouca informação. E partimos sozinhos, o que dá mais um pouco de ansiedade à jornada. Mas partimos para o braço do nosso amado.
Que possamos nos manter sempre prontos, com nossas roupas limpas para a festa que estamos esperando. Que possamos sim amar e nos apegar uns aos outros. Que possamos sentir saudades também. Mas estar com Jesus é sempre uma alegria sem medida, que nunca pode ser confundida com separação, medo e sofrimento.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A desiludida realidade

Tem dia que eu fico tão preocupada com o rumo da fé neste mundo. Não vejo mais espaço para as palavras milagre, Deus, desapego, esperança, transformação. Mesmo entre os crentes, percebo dificuldade em ouvir uma história e crer que Deus realmente agiu. É preferível procurar uma explicação lógica para tudo.
Ou se a história realmente é fantástica, as pessoas a tratam como um roteiros hollywoodiano. Sente pelo menos aquela impressão de fortes emoções, que termina quando se desliga a televisão, num retorno a uma dose grande de realidade.
Quando falo sobre Deus e vejo racionalização ou um olhar cético, sinto aquela impressão que o mal tem vencido, com artimanhas como pressa e rotina que massacram as pessoas. Por que não podemos mais contemplar uma faísca de eternidade a nos apontar um caminho novo em meio a tantas trevas mundanas e temporais?
E os crentes pensam que o papel de Deus é apenas oferecer à pessoa aquilo que ela mesma conquistou com seu suor. Não seria sem graça viver uma vida tão ausente da graça de Deus? Será que a graça já não é tão gratuita assim?
Assim reduzimos a nossa vida ao arroz e feijão, regados pela maldade que a mídia apresenta e que busca se arraigar de todas as formas em nosso coração sob o pretexto de ser a serenidade madura de quem observa o mundo de uma ótima mais imparcial e com doses de politicamente correto e de social e ambientalmente responsável.
Se a vida se resume a isso, somos tão infelizes. Parece que o homem moderno abriu mão de parte da sua humanidade. Daquela humanidade toda que veio antes dele e procurava um Deus maior, mais onisciente para adorar. Agora o que as pessoas têm de mais parecido que isso é a internet e suas redes sociais que fazem da onipresença e da onisciência apenas mais um retrato delas mesmas.
Fechadas em seus mundinhos, as pessoas estão tão ausentes do que é de fato espiritual, mais do que apenas um sentir-se bem, como um apanhado de dieta e meditação centradas para elas mesmas. Ausentes de compaixão. E cegas para um mundo inteiro que se passa diante de seus olhos. E agora?

sábado, 5 de maio de 2012

Paulo e Moisés: no deserto ao som da voz do Senhor

Impossível ler o Pentateuco e deixar de notar um paralelismo interessante entre Moisés e meu preferido herói bíblico, Paulo. Falamos de duas pessoas que conheceram profundamente a Deus e experimentaram vidas inigualáveis por causa disso. Foram pessoas que estiveram muito próximas daquele que fez todas as coisas desse mundo. E de uma forma tão intensa e particular que nem sei se nós, reles mortais, algum dia poderemos afirmar que tivemos tanto contato com o Todo Poderoso. 
Mas as semelhanças não param por aí. A julgar por aqueles que pregam a teologia da prosperidade, imaginaria-se que ambos estiveram muito ricos por aí, já que Deus prometeria isso a seus amados. Mas o que a Bíblia mostra é um Moisés que vagou por um deserto por quarenta anos, liderando um povo rebelde que vez por outra questionava sua autoridade. E lá, quando faltava apenas atravessar um riozinho para enfim chegar ao local que desejou estar durante toda a trajetória, Deus veta sua presença. A ele cabia agora morrer, pois seu serviço estava concluído. 
E Paulo não é diferente. Tantas privações, tantos serviços, tantas dificuldades. Nenhum reconhecimento. Pelo contrário, ele mesmo foi rejeitado pelos seus, e teve de abrir mão das posições de destaque que tinha na sociedade em que foi criado. Algo semelhante deve ter ocorrido com Moisés, pois cresceu como filho da filha de Faraó e no final ficou como um escravo fugitivo. Por opção. 
E tudo isso para Paulo era refugo. Para Moisés não deveria ser diferente. Por várias ocasiões eles ouviram a voz de Deus falar-lhes claramente. Algo que deve colocar todo o interior de uma pessoa e toda a sua vida em ordem. A voz do amado criador, como a voz de um Pai para um bebê sozinho a noite. A direção certa, que revela a razão deste mundo louco.  
Melhor do que todas as riquezas, que as pessoas encontram como o único motivo para servir a Deus. De riquezas eles não tinham nada, nem de muita fama, porque todas essas coisas foram diminuindo ao longo de suas trajetórias com o Senhor. Difícil para nós, que temos uma lógica tão distorcida. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

As ondas e os tempos

Tem dia que está tudo muito mais difícil. Fica pesado olhar no horizonte e ver aquela pouca razão que move um mundo que parece completamente sem sentido. E de repente torna-se tão apagado o brilho das coisas boas da vida, como da família, de si mesmo, do casamento e até mesmo do relacionamento com Deus. Tentamos ter esperanças e, de novo, como em uma grande ironia, ela é frustrada. Acabamos carregados por uma agenda cansativa de coisas para fazer que se avolumam sem deixar espaço para um trivial e saudável momento de descanso.
Será que as coisas voltarão a ser como antes? Será que de novo descansaremos? Será que de novo teremos uma paz profunda a abastecer a alma?
Dúvidas insanas de quem se esquece da natureza da vida humana e das coisas por aqui. Como um barco em ondas, nosso coração sobre e desce em momentos de paz e em outros de angústia. Alguns passam por isso com mais intensidade, mas ninguém está alheio a sentir-se assim.
Agora é a hora de agir como o salmista: "Eu fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe".

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os infelizes semi-cristãos

Li em I Coríntios 15: "Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão". Muitas vezes, tem faltado à igreja pós-moderna uma visão que concentra as energias nesta era. Uns se preocupam em demasia com a compra de um carro melhor ou com a realização de um "sonho de consumo". Outros ficam ali sempre defendendo o lado social e se esquecem do espiritual. 
E de repente, ficamos infelizes. Não somente infelizes, mas os mais infelizes e dignos de compaixão. De que vale ser cristão, se não nos considerarmos peregrinos neste mundo, de olho no Reino dos Céus ("que venha o teu reino"). Não, de fato, não somos cristãos somente pela advocacia de um conjunto de valores. Não somos cristãos porque não roubamos, não mentimos ou vamos sempre à igreja. 
Somos cristãos porque sabemos que Jesus Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou e assim também nós vamos ressuscitar num corpo incorruptível para reinarmos com ele em glória. Se somos semi-cristãos, não temos plena compreensão disso e estamos mais de olho naquela necessidade que bate à porta deste mundo material, seja ela individualista ou até mesmo mais "social". 
Agora, se for pra viver um cristianismo materialista, prefiro pensar como Paulo, no texto citado. ("Se foi por meras razões humanas que lutei com feras em Éfeso, que ganhei com isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos"). 
É melhor viver esse hedonismo louco, pois de nada adianta um cristianismo que não ama a volta de Jesus. 
Como já sei onde habita a verdade, minha opção é dizer como Paulo no final de sua carta: "Vem, Senhor!". Sim, venha logo Jesus, pois ando cansada deste mundo insano em que há crianças entregues à pobreza, à marginalidade e ao uso de drogas e adultos tão interessados em satisfazer seus prazeres a todo o custo. Vem, Senhor!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Eu realmente quero?

Preciso dormir. É isso o que todos os meus nervos me dizem. Dia cheio, trabalho do curso até de madrugada, bebê convalescente depois de uma virose daquelas. Qualquer um diria que de fato chegou a hora de deixar tudo e simplesmente fechar os olhos. 
Mas como fazer isso se até agora não tirei um minuto sequer a sós com meu Deus. Eu orei em alguns momentos. E me lembrei de seus ensinamentos em várias ocasiões. Mas tem vezes que a gente canta que quer a Deus mais do que o ouro e depois não tem a coragem de parar em um momento do dia para ler e meditar em sua palavra, esperar ele falar e contar a ele nossos medos e anseios do dia. 
E aí a música deveria ser: eu te quero menos que a minha cama! 
Desculpe-me, Senhor, pelo meu imediatismo grande, pela facilidade que eu tenho em gastar tempo com coisas tão fúteis como um Facebook e pela dificuldade que eu tenho em me assentar com calma para ler sua palavra. 
Sim, já é de madrugada. Mas nunca é tarde para uma passagem bíblica, para ouvir e ver as maravilhas que Jesus operou e opera. Um parêntesis nessa realidade tão sombria e uma iluminação vinda da eternidade. Como é bom!